Chaim Vital
O Saltador De Dimensões
“Kiftzat Há’Dera’k”
"Era
manhã do dia onze de novembro de 1577, rosh chodesh Kislev, o primeiro dia do
novo mês do luach hebraico antigo. O mestre acordou cedo, como de costume,
antes dos primeiros raios do sol iluminarem os telhados das antigas casas da
aldeia de Tzfat (Safed) - a cidade mística dos qabalístas judeus, o vilarejo
dos estudantes da Sabedoria Escondida. Ainda em sua cama, mentalmente, recitou
o Shivit cognitivamente com introspecção, a temurá do Nome Divino de quatro
letras correspondente ao mês vigente para, logo a seguir, pronunciar
diligentemente e sussurradamente o Modê Ani . Se levantou e caminhou até a
pequena mesa sobre a qual descansavam uma pequena bacia de cerâmica e um
cântaro médio cheio com água. Tomou a vasilha com a mão direita e entregou-a à
esquerda e com kavaná e alternadamente, conforme a tradição do Zôhar, fez a
ablução conforme a transmissão esotérica.
Depois
de fazer sua higiene pessoal, vestiu os tzitziot, após de recitar a brachá
(benção) apropriada, atou os tefilin e se cobriu com seu talit. Proclamou as
bênçãos da aurora e seguiu recitando a Amidá de Shacharit cantilando cada letra
e meditando em cada nikud e com as tagin das otiot sagradas e foi somente ao
terminar, dando três passos para trás e se inclinando para a esquerda, direita
e para o centro, que se sentou à mesa para o seu café da manhã. Pães frescos
recém assados por sua maravilhosa esposa Oirá Boêina, descansavam dentro de uma
cesta feira de folhas de tamareira trançadas. Outras duas continham tâmaras
recém colhidas pelo quitandeiro da aldeia e que as entregava de casa em casa e
um favo de mel deliciosamente fresco e que o mestre comprava do apicultor da
vila.
-
Boqer Tóv zugotí – disse o mestre, expressão que significa “Bom dia minha alma
gêmea”. Oirá se aproximou e beijou o mestre: - Bom dia raboni – que quer dizer
“meu mestre”. Vital se alimentou, agradeceu pela provisão à sua amada esposa,
lavou as mãos sem pronunciar benção, uma vez que isto não era adequado e
recitou a brachá de agradecimento pela provisão e, como de costume, saiu para
caminhar.
O sol
timidamente começava a anunciar sua presença suavemente espargindo sua luz
sobre a maravilhosa aldeia de Safed e colorindo as nuvens com um púrpuro
místico, mas, não foi o sol que lhe sequestrou a atenção e sim a maravilha
estrela adornada por uma luminosa cauda que mergulhava por detrás das colinas
de Tzfat. Sua longa e luminosa cauda foi vista se estendendo sobre o mar da Galiléia. O
mestre se sentou em um banquinho de madeira embaixo de uma frondosa tamareira e
a observou desaparecer atrás dos montesinos do lurgo esotérico de Israel.
Permaneceu ali, pensativo, refletindo consigo, após o que, se decidiu pela
mudança para Jerusalém. Um mistério se vestiu em sua decisão e nem mesmo os
companheiros ousaram o questionar sobre sua decisão.
Quinze dias depois, com
aquela maravilhosa estrela ainda brilhando sobre os céus de Israel, o mestre e
sua família sagrada se assentou em uma nova casa nos arredores da cidade santa.
Dizem que ele comentou, ao pé dos ouvidos dos amigos da assembleia sagrada, da
lembrança que teve enquanto observava a estrela. Recordou-se da instrução de
seu agora oculto professor, o Sagrado Leão de Safed, o Tzadiq Nistar, sobre as
palavras de Raban Iochanan Ben Zakai que ele viu surgir, misticamente, em sua
testa numa Shabat do ano do seu ocultamento: “E preparem uma cadeira para
Ezequias, rei de Judá. Ele está vindo”. Foi esta a razão da mudança do mestre
junto com sua família para Jerusalém no ano do Grande Cometa de 1577 apareceu.
Numa manhã de Shabat, após realizar todo o seu ritual sagrado e tomar seu delicioso café
regado com tâmaras frescas e aquele delicioso favo de mel, caminhava, seguindo a halachá de não caminhar uma distância longa durante o período da Shabat, pelas
vielas da antiga cidade quando, um dos guardas do palácio real, bastante
ofegante, por sinal, o abordou, engasgando com as palavras enquanto buscava
fôlego para lhe declamar as palavras do Sultão de Jerusalém:
“O rei
– pausou respirando com dificuldade – requer vossa presença – suspirou
aliviado”. Havia caminhado por quase todas as vielas à procura do grande
cabalista. Nenhum judeu naqueles dias jamais pensaria em não atender a um
chamado do Sultão de Jerusalém “- e certamente – pestanejou franzindo a
sobrancelha esquerda – eu não serei o primeiro” – disse para si enquanto
caminhava ao lado do guarda real que recebeu ordem de o escoltar até o palácio.
O mistério lhe aquecia as almas.
“-
Pelas barbas de Rabi Akiva...” – balbuciou puxando as próprias zaqenot “ – e pela
luz da lâmpada sagrada, o que será que deseja o sultão comigo?” – discorreu em
seus pensamentos.
Adentraram,
depois de vinte e seis minutos de andança, os portões do palácio entre
olhando-se como se aliviados ambos por terem alcançado as entradas da oponente
edificação sãos e salvos.
“-
Dias perigosos!” – sussurrou o guarda ao que Vital, franzindo a sobrancelha
esquerda, demonstrou concordar. O guarda sei foi.
“- Eu
ouvi, enquanto caminhava pelas ruas de Jerusalém sob o manto do silêncio deste dia, o som de águas subterrâneas
correndo por baixo desta grande e sagrada cidade e curioso” – disse o sultão –
“me informei com meus sábios sobre este mistério e eles me revelaram se tratar
das águas do rio Giom que foi selado pelo rei Ezequias” – completou.
“-
Alteza” – disse o mestre se curvando da forma apropriada – “ – se me permite o
questionar, foi por este mistério que o rei mandou me chamar?
“- Não!”
– Respondeu o sultão. “- Eu o mandei chamar porque, fui informado pelos meus
sábios, que você é o mais elevado cabalista em toda Israel e que somente você
poderia retirar o sifão e abrir a fonte do Giom e é o meu desejo que você o faça!”
– Exclamou o rei apontando seu cetro na direção do coração do mestre.
Vital
estremeceu e em poucos segundo refletiu sobre toda as meditações que teria que
realizar para abrir o manancial do Giom. “- E se eu falhar...” – Pensou. O medo
o tomou de súbito.
“-
Agora que você conhece o meu desejo, vá e o realize para mim!” – Ordenou o
sultão fazendo um sinal para que um guarda o escoltasse até ao portão do
palácio.
Vital
saiu, curvando-se adequadamente, atemorizado da presença do rei. Ao chegar em
casa, atravessou a porta sob os sinos de vento colocados sob o telhado e se
fechou em seu quarto. Acendeu muitas velas e tomando aquele antigo livro de
meditações que ele mesmo havia anotado, intencionou com determinados nomes
secretos e sagrados que ali estavam escritos. Os sinos de vento pendurados sob
o telhado em frente à porta de entrada da casa tilintaram como que soprados por
um vento esotérico assoviando mistérios. No quarto, o mestre já não era.
Somente as cortinas dançavam à luz de velas acesas sopradas pelo mesmo ruach
que fez cantar os sinos do lado de fora.
Que
homem era este que recebia imediatamente o auxílio da provisão divina ao
invoca-la? Vital reapareceu em Damasco caminhando pela rua principal como que
saído de lugar algum. Ninguém o notou. À noite, o sagrado Leão, veio a ele em
um sonho, enquanto Vital se revirava na cama da velha hospedaria de Damasco no
quarto iluminado pelas flamas de uma vela e lhe perguntou:
“- Por
que você fugiu?” – “- Tive medo meu mestre” – respondeu o cabalista ao seu
professor e tentou infortunadamente lhe explicar:
“- As
meditações eram muito complexas e eu temi pela minha alma” – justificou-se o
cabalista tentando convencer o seu mestre.
“-
Dezesseis dias atrás em vim até você cavalgando uma brilhante estrela e lhe
recordei das palavras de nosso mestre ben Zakai quando estava para morrer, e
você sabe que você é a reencarnação de Ezequias, rei de Judá, que fechou a
fonte superior do Despertar e era sua tarefa retirar o sifão a liberar as águas
e você me diz que teve medo por causa das temurot que teria que realizar? – Lhe
repreendeu o sagrado professor.
“- Sim
meu mestre!” – Tentou novamente se justificar o cabalista ao que seu mestre lhe
questiounou: “ – E
como você chegou a Damasco? Não foi através das muitas permutações sobre os
Nomes Sagrados?” – O lembrou seu amado instrutor.
“ –
Esta bem mestre, eu vou voltar lá amanhã e vou retirar o sifão!” – Vital disse
arrependido, ao que o mestre lhe respondeu enquanto esvanecia de seu sonho: “ –
O dia era hoje e agora somente daqui a quatrocentos e trinta e seis anos, no
primeiro dia do festival de Hannuká quando outro Anjo do Sagrado Nome aparecer
anunciando a chegada da Era messiânica, e eu o estarei cavalgando novamente...”
– sumiu.
Vital
desistiu de voltar para Jerusalém e mandou buscar a família. Ele se ocultou do
mundo atravessando a cortina para uma nova reencarnação no 123º dia do ano de
1620 aos 77 anos. Em muitos livros se anotaram o seu feito milagroso de ter
saltado, atravessando dimensões, até reaparecer na cidade de Damesheq no ano de
1577".
O Mistério Do Rio Giom
O rio
Gichon é mencionado no Gênesis como um dos quatro afluentes do principal rio
que fluía do Éden para regar o Jardim místico de D’us. Ele é identificado pelos sábios como o
manancial do despertar e que foi represado pelo Rei Chizkiahu (Ezequias) que
era o responsável para inaugurar a Era messiânica. A missão passou ao Rabino
Chaim Vital que era uma reencarnação de Ezequias e ele postergou a inauguração
da Era messiânica se recusando a obedecer ao sultão de Jerusalém (D’us). A
gematria de Gichon é igual a 77 “im há’kollel”.
O Mistério Do Sifão
O
termo sifão vem do hebraico “sifon” e a
sua gematria esconde o seu verdadeiro segredo. Sifão possui seu valor
numerológico igual a 207 que é o mesmo da palavra hebraica “raz” que significa “mistério
divino”. O sifão foi o selo colocado pelo rei para represar as águas dos
mistérios divinos da Sabedoria Escondida da Torá. A gematria do nome do rio é a
mesma da palavra “mazal” cuja raiz “nozel” significa “a partir do oculto não
revelado”. Retirar o sifão e liberar as águas do Giom significa “abrir das
fontes do despertar messiânico” através da revelação de mistérios divinos que
nunca antes haviam sido revelados.
A
gematria das palavras de Raban Iochanan ben Zakai quando estava para morrer “Ve’hachino
kissê le’Chizkiahu melech Yehudá, shevô “E preparemos uma cadeira para
Ezequias, o rei de Judá, ele está vindo” é igual a 773 em gematria “im há’teivot”.
O valor 773 corresponde ao ano hebraico 773 do quinto milênio que foi
correspondente ao gregoriano 2013.
436 anos depois...
Autor
Dipankara Vedas
Misha’Ël Há’Levi
Kalamus Elohai
O Mistério Do Cometa
“Zechar-Yáh”