Êxodo - Do físico ao espiritual
Conversa com o cabalista Rabi Michael Laitman
Conversa com o cabalista Rabi Michael Laitman
"Se você compreender o que realmente é ser Judeu, compreenderá também as verdadeiras causas do antissemitismo. Ser judeu está muito além de etnia ou raça, é um estado espiritual que qualquer pessoa no mundo pode alcançar. O antissemitismo é a oposição a este estado e reside em forças antagonistas ao estado espiritual que devemos alcançar. Se eu afirmo ser judeu mas persigo outros que afirmam o mesmo, o antissemitismo está em mim. Se eu não aceito outros só porque nasceram no exílio, então, eu sou o antissemita. Portanto, é necessário uma verdadeira compreensão do que é realmente ser judeu. Um cristão pode ser um judeu. Um budista pode ser um judeu. Um árabe e muçulmano pode ser um judeu. Um espírita pode ser um judeu. Se alguém pratica um preceito positivo da Toráh como, por exemplo, amar ao próximo ou fazer tzedaqá (caridade), então, está pessoa é um judeu e seu eu for contra ele, ou o caluniar, degradar, perseguir ou o ameaçar, eu sou o antissemita e não o outro. A raiz do antissemitismo vive dentro de cada um de nós e é preciso combatê-la com amor elevado."
Palavras Introdutórias
Bën Mähren Qadësh
"Autor Do Blog"
As pessoas nesse mundo são
todas pessoas comuns. Mas para um persa chamado Abram (e mais tarde, Abraham),
o Criador Se revelou, e essa revelação o fez especial. Ele tornou-se um
“Yehudi” (judeu), da palavra “Yechudi” (único), pois ele e o Criador
tornaram-se um. Quem, então, é esse Abraham? Ele é um homem que foi dotado com
uma centelha espiritual, uma sensação do Criador. Mas se não fosse por isso,
ele seria uma pessoa comum.
Não há santidade em nenhum
órgão de nosso corpo. Por isso, não importa se um coração deficiente é
substituído por um coração humano, ou pelo coração de um porco. Nossos órgãos
são tão materiais quanto os dos animais. Eles não são sagrados, não são conectados
com o Criador.
Não há diferença entre um
judeu e um gentio, além da centelha do Criador que se encontra no judeu. Isso
significa que se essa centelha existe no coração de uma pessoa, essa pessoa é
chamada judia. Se essa centelha desaparece, o judeu torna-se gentio. Esta,
porém, é uma situação impossível, porque a santidade sempre aumenta, nunca
diminui. Esta é uma lei espiritual, pela qual todas as coisas são aproximadas
do Criador.
O êxodo para o mundo
espiritual é um processo lento. Primeiro, o homem é cativo dos desejos deste
mundo. Gradualmente, ele compreende a falta de propósito de sua existência
física, pois se não houvesse aquela centelha, o homem seria apenas mais um no
moinho.
Está escrito na Haggadah:
“Primeiro, nossos pais serviram a deuses estranhos”. Servir a um deus estranho
(paganismo) é um estado possível somente se a pessoa tiver feito contato com o
Criador, tenha-se tornado consciente da oposição entre seus atributos e os
atributos do Criador, e tenha escolhido agir contra a vontade do Criador.
Assim, o paganismo já é um certo grau de consciência, de capacidade de operar
além da natureza que foi dada à pessoa com o nascimento.
De fato nossos pais serviram
a deuses estranhos, mas então o Criador Se revelou a eles, e a luz que veio com
esse processo foi aceita como uma ordem de migrar da Mesopotâmia para a Terra
de Israel. Assim nós vemos que neste mundo também, a pessoa se move de um lugar
para outro, seguindo seu desejo interno, seu coração.
Os Cabalistas escrevem que
nós podemos viver na Terra de Israel, desde que encontremos seu nível
espiritual. De outro modo, estaríamos exilados daqui assim como antes. O
Criador trouxe nossos corpos de volta, mas permanece nosso dever fazer o
retorno interior para o estado espiritual chamado a Terra de Israel, e sermos
merecedores dessa terra, que é tudo o que precisamos!
Abraham, o Patriarca, é um
testemunho disto. Uma vez que ele tornou-se judeu, Deus disse a ele: “Saia de
seu país, e de sua família, e da casa de seu pai, para a terra que Eu lhe mostrarei”.
E Abraham moveu-se (interiormente) para a Terra de Israel: ele começou a
desenvolver vasos espirituais, vasos de doação.
Mas para atingir a unidade
com o Criador, é necessário mais do que a capacidade de doar (de doar por
doar); é necessária a capacidade de receber por doar, através dos vasos de
recepção, corrigidos pela intenção de doar ao Criador. Mas onde a pessoa
encontrará esses vasos, esses desejos? Quando a pessoa está na Terra de Israel,
e deseja doar ao Criador, descobre que não há nada para dar a Ele, e torna-se
faminta, faminta por doação.
Então a pessoa se exila no
Egito. Mas por quê, para quê? Porque a renúncia aos nossos desejos de receber é
contrária à nossa própria natureza, à natureza humana. De fato ninguém pode
compreender isto. Nenhum outro método além da Cabala usa isto, porque esse ato
se opõe à natureza humana. Todos os outros métodos têm origem na nossa natureza
inata, e objetivam tornar nossa vida confortável, agradável, todos exceto a Cabala,
que foi outorgada a Abraham com a sublime revelação do Criador.
Havia realmente muito
trabalho no Egito?
Como se disse, o homem está
confuso, faminto (tanto física quando espiritualmente). Os objetivos materiais
tomam precedência, de modo que a pessoa possa compreender o quanto o espírito é
superior à matéria. Recebe-se delícia espiritual em atos materiais. Mas o
verdadeiro sabor do prazer material permanece apenas para os sábios (aqueles
que aspiram à sabedoria, que ascendem ao espírito para viver verdadeiros
desejos), pois são eles que devem confrontar os maiores prazeres.
Quando a pessoa progride em
seus estudos, passa a ver a si mesma como mais e mais corrupta. Desejos ainda
piores despertam nela. Precisamente isto é o exílio para o Egito, quando aquele
que aspira subir a escada para o espiritual cai sob o domínio do desejo de
receber.
É por isso que foi dito que
os irmãos de José o visitaram no Egito em segredo. O exílio para o Egito acontece quando a
pessoa perde os seus vasos de doação, quando eles caem no domínio dos vasos de
recepção. Esse estado permanece por um período, durante a progressão da pessoa
em espiritualidade.
Quando a pessoa começa a
estudar, está em alto espírito, sem preocupações. Mas após alguns meses as
coisas mudam. A espiritualidade não é mais tão atraente quanto antes,
distúrbios materiais aparecem e a pessoa sente que nunca verá as portas dos
Céus se abrirem.
Por que isso acontece?
Porque os vasos de recepção
precisam ser desenvolvidos, uma tela (massach) deve ser adquirida e estendida
contra os desejos do Egito. Na verdade, a pessoa possui os seus vasos de
doação, mas eles estão ocultos. Quando o trabalho no Egito começa, a pessoa
anseia por espiritualidade, mas quanto mais ela anseie por isso, mais ela vê
que é inatingível.
O período da “escravidão no
Egito” dura enquanto a pessoa sente que é realmente escrava, até que venha um
novo rei, que não conheça Josef. A pessoa sente que seu Faraó interno a domina,
e a conduz contra o Criador.
Mas se o desejo de receber
permite-me ter prazer, o que está errado nisto? Como esse domínio poderia ser
prejudicial a mim?
Se eu quero algo mais que a
satisfação dos desejos, por exemplo, se eu quero ter contato com o Criador, mas
compreendo que todos os prazeres materiais me distanciam Dele, começo a
percebê-los como um obstáculo, como algo mau que opera contra mim.
Então, começa uma batalha
interior. Começo a imaginar se esse “Eu” é aquele que deseja aderir ao Criador,
ou se “Eu” é aquele que procura prazeres materiais.
Quem, então, é o meu “Eu”?
Eclode uma guerra entre ambos
os desejos: de um lado Moisés e Aaron e do outro, o Faraó. Não é possível
prever quem vencerá quem, porque os magos do Faraó fazem os mesmos milagres que
o Criador. Assim, só é possível escapar do domínio da natureza após o Criador
ter batido dez vezes (as 10 pragas do Egito).
Para que meu “Eu” neutro
sinta de onde vem a luz, ele precisa sentir os dez golpes – assim como o Faraó
dentro de mim, que se opõe ao Criador – de modo que eu possa me destacar dele,
e atingir um estado em que o próprio Faraó dirá: “Vá! Você me trouxe dor
demais!”
Os dez golpes mostram ao
homem que o domínio do Faraó é uma coisa odiosa, intolerável. Então o próprio
homem deseja escapar desse domínio. Quer, mas não pode! Assim, para ter sucesso
em escapar do Faraó, são necessárias certas condições externas. É preciso haver
pressa, ocultamento e a escuridão da noite.
Somente então o homem pode
reunir seus desejos de doação, separá-los de seu próprio desejo de receber e
esconder-se deles. A escapada acontece à noite, quando a luz espiritual está
fora. É preciso fé acima da razão, indo contra seu próprio julgamento, para
escapar de sua natureza.
Diz-se: “Se você laborou e
encontrou, então acredite”. Isso significa que a pessoa executou muito trabalho
para que o Criador se revelasse, mas não sabe se esse trabalho é suficiente
para sair deste mundo e entrar no mundo superior. A saída de nossa própria
natureza é um evento súbito.
O homem não tem controle
sobre esse processo, ele simplesmente acontece! Ele anda sobre a terra, entre
as muralhas do Mar Vermelho, a barreira, e entra... em um deserto. Então, o que
ele ganhou com isso? O homem entra no Egito com uma centelha do Criador, com um
anseio pelo espírito, e sai com vasos vazios de recepção – a sensação de um
deserto.
Foi dito que Israel partiu
com “jóias de prata, e jóias de ouro e outros ornamentos”. Isso significa que o
homem agora tem desejos corruptos de receber e precisa começar a trabalhar com
eles e corrigi-los. Pois enquanto esses vasos pertençam ao Egito, eles lhe
darão somente a sensação de escuridão, de um deserto. Mas quando ele os corrige
e os usa corretamente, através deles o homem receberá a luz superior.
Então o homem entra no
deserto. Ele ainda não está na Terra de Israel. Agora ele precisa da luz para
distinguir o quanto cada atributo merece ser usado em sua progressão para o
mundo espiritual. A recepção dessa luz é chamada a “recepção da Torah”.
Uma pessoa que saia deste
mundo para o mundo espiritual, começa a trabalhar em três linhas: uma à
esquerda, uma à direita e uma intermediária. Precisamos compreender que não
somos nós que fazemos o trabalho, é o Criador, é trabalho de Deus. Precisamos
aceitar Seu trabalho sobre nós! Tudo foi criado em seu estado perfeito, mas a
criatura somente pode acessar a perfeição, desde seu oposto. É por isso que o
homem precisa experimentar todos os estados imperfeitos. O trabalho do homem é
um processo de auto-conhecimento; conhecimento do trabalho que o Criador está
fazendo sobre ele.
Há um mundo e dentro dele há
uma alma. O contato com o Criador é composto de três partes: Olam (um mundo),
Shanah (um ano), e Neshamah (uma alma). Shanah é a extensão do contato entre
Olam e Neshamah. A palavra Olam tem origem na palavra He’elem (ocultamento).
Isso significa que Olam é a extensão do ocultamento do Criador.
É possível atingir resultados
espirituais cumprindo atos físicos?
Tudo o que o homem faz, é
porque quer. A pedra também, que não tem movimento, quer manter sua forma. A
planta quer crescer. Ela anseia pela luz e cresce em direção a ela.
O desejo do homem sempre se
expressa em um certo ato. É por isso que cada movimento que cada animal
faz é exatamente o movimento que ele precisa fazer.
Embora cada desejo seja
expresso no exterior, o homem não está sempre consciente de seus desejos. Do
exterior, não se pode compreender o propósito dos atos de outro. É por isso que
a ciência que estuda as intenções é chamada “A Sabedoria do Oculto” – pois
ninguém sabe o que está em nosso coração, freqüentemente, nem nós mesmos. Mas
como sempre, a forma externa indica o desejo interno.
Nós ainda não estamos nos
mundos espirituais e não podemos trazer outras almas para nossa tela. Assim,
nesse intervalo, nosso trabalho é principalmente no nível deste mundo,
difundindo a sabedoria da Cabala. Esse ato é totalmente espiritual. Através
dele, ajuda-se outros a que se juntem a esse caminho, através de atos físicos;
a pessoa ajuda a difundir espiritualidade neste mundo.
Autor
Rabbi Michael Laitman
B'nei Baruch